Wednesday, October 24, 2007

a Kimba


A Kimba viveu comigo 11 anos, desde os seus 15 dias de vida. Chegou ao meu 3º andar da Estrela numa caixa de cartão e saiu de casa sem que a conseguisse olhar uma última vez. Era a Kimba logo doce e bela, aos 8 de Fevereiro de 1980, quando primeiro nos vimos. Ladrava baixinho, quase piava, ao sair de dentro da caixa. Tinha fome. Dei-lhe leite. Pequenina que era, pu-la em cima da cama, aí uns 60 centímetros acima do chão. Tinha de cair, caiu de alto. Chorou, ou seja ganiu fininho, como de fino se queixam todos os infantis. Mas foi um dia fantástico. Começavam 11 anos de alegrias e cumplicidades. Fui sempre o seu principal municiador de lazer, o parceiro de todos os passeios, o prestador de quase todos os cuidados de saúde. Fui também o salvador de alguns apertos, pois a Kimba morreu virgem e tinha feitio às vezes difícil, sem nunca suportar que cão algum lhe pusesse as patas em cima. A Kimba era curiosa, incrivelmente metediça, mesmo agressiva, por vezes. Não queria sexo, mas era raro o macho que passava sem uma inspecção à virilidade. É verdade que a sua qualidade de meio pastor alemão (o pai não era pastor alemão) acabava quase sempre por impor respeito. Do género “mostra lá o que tens mas põe-te calmo”. Mas sucede que um certo dia, ao chegarmos ao jardim da Estrela e ao fazer o seu habitual programa de reconhecimento, alívio e inspecção geral, a Kimba vislumbra um macho e, como de seu uso, logo desata a correr para ele. Só que este macho era diferente de tantos outros. Teria 3 vezes o tamanho dela. Parecia um burro. Mas a Kimba não hesitou e foi decididamente ao que queria, determinada a conhecer o lugar sensível daquele quase ciclope canino. Como se adivinha, mediante tal inaudita demonstração de interesse, o cavalheiro prepara a resposta e procura posicionar-se. Em coerência com o seu perfil psicológico e a sua moral tão particular, a Kimba responde como sempre e manda-se de dentes ao burro. Teria sempre poucas hipóteses. Ora, eu sempre tive medo de cães (a Kimba era naturalmente, para mim, mais que cão). Mas naquele fim de tarde tinha de salvar a irmã espiritual, minha companheira de anos, aquela louca e casta cadela que tantos bons e maus momentos tinha partilhado comigo, e eu com ela. Sem outro remédio, corri direito ao burro, o dono estúpido e estático, provavelmente divertido, e eis-me na indeclinável imposição de arrancar a Kimba daquela cena de terror, com o maior cão que jamais vira de tão perto (sensação de descomunalidade provavelmente induzida pelo medo). Agarrei nos seus 20 quilos a braços e só então ela parece ter-se inteirado de que aquele não era macho ao seu alcance. Nunca mais vi o burro e a Kimba e eu continuámos felizes juntos. Até uma certa manhã de fins de Janeiro de 1991, quando o silêncio se substituiu à habitual alegria dos seus “bons dias”, em forma de pequenas lambidelas. Falhou o coração. Tocava no gira-discos Angelo Badalamenti, a banda sonora de “Twin Peaks”. Nunca mais consegui ouvir Badalamenti, e de David Lynch vejo sempre com dificuldade os filmes. Acho-os aos dois, depressivos e soturnos como são, em parte culpados pelo que se passou, creio que aos 31 de Janeiro de 1991.

Tuesday, July 25, 2006

Monday, July 10, 2006

Porquê?

Talvez pelo azar ontem de Zidane, quando cabeceou Materazzi e malfadadamente colocou mancha negra no termo de uma grande carreira.

Este De Lagoa a Boticas talvez tenha nascido por isso, para dar conta de tipos como Zidane e eu, basicamente imperfeitos, mas com as suas coisas boas.

Enfim.

Haverá muitos temas e poucos posts. Mas depois se verá.

Quanto ao título, depois explicarei melhor.

Bye.